Quem disse que está na hora de parar de trabalhar?

Carreira

“Uma pessoa é tão velha quanto se sente”, Rainha Elizabeth II do Reino Unido.

Essa foi parte da justificativa da rainha, ao declinar o prêmio Oldie of the Year – Velhinho (a) do Ano –, concedido pela revista britânica The Oldie. Sua recusa, certamente, está relacionada ao fato de a monarca sentir-se bastante atuante, apesar da idade avançada. Mais do que isso: especialmente nos dias de hoje, o termo “velhinho” não agrega valor ao homenageado, mas sim traz uma conotação pejorativa do tipo “bonitinho, mas ultrapassado”. E Elizabeth II, aos 95 anos, realmente, está longe de se encaixar nesse perfil. Afinal, há quase 70 anos ela ocupa os postos de rainha do Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia, além de mais 15 estados independentes – os Reinos da Comunidade das Nações –, e de chefe da comunidade Commonwealth, formada por 52 estados. É a primeira mulher monarca soberana da Casa de Windsor e governadora suprema da Igreja da Inglaterra.

Alguém duvida da competência, capacidade e força dessa incrível mulher de dar continuidade a essa trajetória de sucesso? Pois é, mas se ela estivesse ocupando um cargo corporativo sua história seria outra, não é mesmo? Aliás, na curva da empregabilidade, os maduros são aqueles que desejam permanecer na empresa, diferentemente dos mais jovens, que estão sempre em busca de oportunidades mais atraentes. No entanto, essa curva se inverte na perspectiva do contratante. Ele quer contratar o mais jovem e prefere desligar o mais velho (veja quadro). E é nessa gangorra que o mercado de trabalho se equilibra. O ideal seria que houvesse um maior investimento em programas de atualização, valorizando, assim, os predicados inerentes aos profissionais prateados: conhecimento acumulado, inteligência emocional, resiliência, flexibilidade e mais comprometimento e rapidez na tomada de decisão, entre outros.

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No entanto, o que se ouve muito é que “passou dos 50, já está passado”. Aliás, este poderia ser um dos slogans do etarismo – também chamado de idadismo, ageísmo e velhofobia –, um preconceito que coloca em xeque a capacidade criativa e produtiva dos profissionais maduros. Isso está tão arraigado que até mesmo quem tem mais idade acaba acreditando nesses rótulos infames que a sociedade vem tentando grudar com Super Bonder na mente das pessoas. 

Nada de ter autopreconceito! Afinal, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mais de 25% da população brasileira tem 50 anos ou mais. São mais de 50 milhões de pessoas! Além desse número gigante, a faixa etária que mais cresce no País é a de mais de 60 anos que, segundo estimativas do IBGE, deve estar preparada para viver em média mais 20 anos. Logo, não é nada razoável aceitar que, a partir dos 50, a posição que resta ao profissional é “sentado-na-poltrona-assistindo-TV”.

Pandemia reforça o preconceito

Muita gente só se deu conta de que era “idosa” por conta da quarentena.

Essa mesma pandemia que, segundo o IBGE, subtraiu dois anos de nossas vidas, também tornou ainda mais complexa a recolocação do profissional com mais de 50 anos. Com a faca e o queijo na mão, muitas empresas descartaram profissionais maduros, pois a pandemia agregou a ele mais um fator negativo: vulnerabilidade na saúde. Ou seja, muitos dos que estavam empregados perderam sua posição de trabalho e outros que estavam buscando uma vaga viram as oportunidades escoarem pelo ralo.

Por fazerem parte do grupo de risco, a maioria desses profissionais teve de se recolher imediatamente em suas casas. Muitos deles só se deram conta que integravam a categoria “idoso”, quando a pandemia provocou esse exílio forçado. O problema não foi ter de ficar em isolamento, mas sim o rótulo que veio junto com isso: o preconceito elevado à enésima potência.

É preciso olhar a longevidade em perspectiva e perceber as oportunidades que ela oferece. A economia prateada não está aí apenas para consumir, mas também, e principalmente, para trabalhar, amar, sonhar, realizar, viver… E é importante que o mercado entenda, que com o envelhecimento da população, se não houver oferta de trabalho, a relação de consumo não se concretiza. Ou seja, a equação não fecha.

Empregabilidade depois dos 50 anos

Programas focados nos maduros ainda precisam avançar no sentido de oferecer vagas realmente compatíveis à experiência do profissional.

Os profissionais maduros estão, na verdade, na plenitude de sua carreira. Para aqueles que ainda não acreditam na capacidade produtiva deles, recomendamos que prestem mais atenção na entrega que eles vêm fazendo, dando um banho de profissionalismo, competência e criatividade. 

Atenta a esse movimento, em junho deste ano, a Revista Forbes Brasil publicou a primeira lista Forbes 50+, com histórias de dez profissionais que se reinventaram ou empreenderam de forma criativa e diferenciada. Entre eles, o ex-CEO da Azul, Pedro Janot que, após sofrer um acidente que lhe deixou tetraplégico aos 52 anos, deu a volta por cima e, hoje, é consultor de empresas, compartilhando seu conhecimento acumulado ao longo de sua carreira corporativa; e as empreendedoras Marta Monteiro, 67, e Veronique Forat, 64, que se uniram em torno do projeto Morar com Você, de moradia compartilhada – leia a matéria completa. Em nosso artigo anterior, também contamos as histórias de virada de carreira da jornalista Luciana Alvarez, 46, e do administrador de empresas Fábio Benedetti, 48. Se você ainda não leu, aproveite para conferir o artigo

Esses são apenas alguns exemplos, mas há muito mais. Portanto, não se justifica o fato de considerar o profissional maduro fora de combate. Há bons e maus profissionais, independentemente da idade. 

Felizmente, algumas empresas passaram a incluir programas voltados à contratação de profissionais com mais de 50 anos. No entanto, ainda há que se rever as posições oferecidas a esse público em algumas dessas iniciativas inclusivas. Há casos em que os programas funcionam mais como um sistema de “cotas”, que promove a diversidade etária, do que como uma recolocação legítima que leva em conta a experiência daquele profissional. Ou seja, não é incomum encontrar um profissional como Ben, personagem vivido por Robert De Niro no filme “Um senhor estagiário” – disponível na Netflix – que, aos 70 anos, é contratado para trabalhar em uma start-up como estagiário, um cargo para o qual ele é superqualificado. 

Desatualizado e por fora dos avanços tecnológicos?

Aos 92 anos, Carminha, ao lado de seu neto, Leonardo, é uma influenciadora digital, com quase um milhão de seguidores.

Quando se pergunta qual o problema em contratar alguém com mais de 50 anos, o “senso comum” responde que o que atrapalha é o fato de que, a partir dessa faixa etária, o profissional é menos produtivo, mais desatualizado e não tem muita afinidade com o mundo digital. Será que é isso procede?

Durante o isolamento provocado pela pandemia, houve um boom no uso das redes sociais. E depois de um sem-número de lives, dancinhas, fornadas de pães, bolos e afins, apareceram algumas preciosidades que encantaram públicos de diferentes faixas etárias.

Entre elas está Maria do Carmo Praia de Aeta Fusco Darcádia, mais conhecida como Carminha, que foi uma grande revelação do mundo virtual, durante a pandemia. Aos 92 anos, sua joie de vivre, seu humor afiado e seus conselhos certeiros conquistaram as redes sociais. Ao lado de seu neto, Leonardo Darcádia, de 20 anos, ela tem a habilidade de espantar o mau humor de qualquer um e já reúne um séquito de 950 mil pessoas no Instagram – @leonardodarcadia.

Outro exemplo é o de Izaura Demari que, aos 80 anos, é model influencer. Diretamente de Florianópolis (SC), ela reúne nas passarelas do Instagram uma plateia de mais de 236 mil pessoas. Seus looks para lá de originais e inspirados podem ser conferidos todas as manhãs em sua página: @voizaurademari, bem ao estilo da ícone da moda estadunidense, Iris Apfel, de 100 anos, que conta com mais de 2,1 milhões de seguidores – @iris.apfel.

Fim da linha ou início de uma nova fase?

Vencedor do Oscar 2021, com o filme Meu Pai, aos 83 anos, Anthony Hopkins tornou-se o ator mais velho a receber a premiação na categoria de protagonista.

O consagrado ator Anthony Hopkins, aos 83 anos, foi o destaque da 93a. edição do Oscar, de 2021, por sua interpretação visceral do personagem principal em “Meu Pai” – disponível na Apple TV, Belas Artes à La Carte e Google Play, entre outros. O filme mostra a perspectiva do idoso em relação ao Alzheimer, doença da qual o personagem de Hopkins é vítima. Ou seja, um papel extremamente complexo. Sua atuação foi aclamada pela crítica como a mais espetacular de sua carreira. E, ainda, de quebra, bateu um recorde. Tornou-se o artista mais velho a receber um Oscar nessa categoria.

Ao destacarmos esse fato, queremos chamar a atenção para a potência que existe em um profissional com experiência acumulada, vida vivida e talento afiado. O tempo não piora a performance de um profissional, pelo contrário, ele lapida.

E é justamente essa gema preciosíssima que deve ser valorizada, não apenas pelo mercado, mas por você que está lendo esse artigo. Não importa se você ainda não chegou aos 50 porque você também vai chegar lá e é muito importante que você assimile que “lá” é um lugar de sabedoria, de potencialidade, de transformação, de aperfeiçoamento e de realização de sonhos. 

E há muitas formas de atravessar essa estrada da longevidade, mas é preciso se preparar. Ou seja, é importante cuidar não somente do lado intelectual, mas também da saúde física e do bem-estar psicológico e mental. Afinal, você é o único protagonista dessa história.

Acredite! Mesmo que o mundo diga que está na hora de você sair de cena e de se tornar apenas um mero espectador, você é capaz de fazer essa travessia. E é disso que nós, do programa Carreira 50+, estamos falando. Agende uma conversa conosco. Nós podemos ajudá-lo a encontrar seu potencial criativo e transformá-lo em negócio.

Projeto Carreira 50+

O projeto Carreira 50+ é uma parceria entre Márcia Carneiro, jornalista, especialista em Comunicação Integrada de Marketing e com formação em Dinâmica dos Grupos, e Cris Baratacoach, empreendedora e proprietária da Papilio Empresarial.

Com expertises em suas áreas de atuação, as duas se associaram nesse projeto com o objetivo de compartilhar aprendizados e experiências vividos por elas mesmas em suas transições de carreira.

Além disso, o Carreira 50+ visa orientar e guiar aqueles que necessitam de um trabalho mais focado e individual no processo de ressignificação de sua trajetória pessoal e profissional, transformando o aprendizado de uma vida em oportunidade de negócio.

Foto desse artigo da Rainha Elizabeth II @theroyalfamily de 7 de outubro de 2021.

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