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“Não se pode criar experiência. É preciso passar por ela”, Albert Camus (1913-1960).
Existem competências que são únicas, por isso são valiosas, raras e difíceis de serem copiadas. Essas competências são desenvolvidas a partir da experiência. Ou seja, são adquiridas ao longo da história vivida pelo indivíduo, tanto pessoal quanto profissional. Elas, portanto, não são mensuráveis e fazem parte de um acervo próprio, particular. São “competências imateriais”.
Assim como a digital caracteriza o indivíduo como único, as competências imateriais também constroem, de forma singular, o que cada um é. Quando nos conscientizamos desses saberes, nos apropriamos de nossos diferenciais, do que nos torna únicos naquilo que fazemos.
Mas quais seriam esses saberes? Podemos elencar inúmeros, mas, entre eles, destacamos: bom-senso, discernimento, timing, feeling, capacidade de escuta, valores. São competências que dificilmente serão desenvolvidas na sala de aula, mas sim vivendo a vida, experienciando cada momento.
A metáfora do bolo
Uma amiga nossa conta que sua avó, quando estava com algum problema ou dilema, ia para a cozinha fazer um bolo. Quanto mais complexa a questão, mais difícil era também a receita que fazia. Ao finalizar a tarefa, em geral, acabava encontrado a saída para a situação que estava vivendo. Ao preparar o conteúdo desse artigo, lembramos dessa história, que nada mais é do que uma metáfora sobre como acessar o conjunto dos nossos saberes e aplicá-lo no dia a dia, seja pessoalmente, seja profissionalmente.
O processo de fazer um bolo tem a ver com ancestralidade, criatividade, técnica, intuição, emoção, transformação, alquimia. Um bolo é o resultado da somatória de ingredientes que, quando misturados, se transformam em sabor, aroma, consistência, em alimento, em algo singular, em um produto exclusivo daquela pessoa. Nossas experiências e saberes também são assim. Quando misturados e dosados com equilíbrio e consciência, nos oferecem possibilidades incríveis.
E na prática?
Imagine uma pessoa que escreve muito bem. Será que ela, necessariamente, está vocacionada a ser uma escritora? É o escrever bem que a diferencia? Pode ser. Porém, não é apenas isso. Sua habilidade vai ganhando traços próprios, a partir do que é vivido por essa pessoa e de seu contexto – cultura, família, história, gostos pessoais, repertório. O domínio das palavras e de sua articulação podem levá-la a ser uma excelente escritora, mas também podem fazer com que se dedique de forma exemplar a outras áreas de atuação: política, pedagógica, sociológica, diplomática, comunicacional etc. Nesse caso, escrever bem é um atributo importante que ela possui, mas não o único. Sua diferenciação, portanto, não está somente na habilidade de escrever, mas sim em um conjunto de competências – materiais e imateriais – que se forma a partir do que é vivenciado.
Experiência significativa
“Maturidade tem mais a ver com o tipo de experiência que você teve na vida, do que com quantas velas você apagou”, William Shakespeare (1564-1616).
Experiência tem a ver com os anos vividos? Sim e não. Sim, porque quanto mais os anos passam, naturalmente, mais vivências são incluídas em nossa bagagem. Não, porque é possível passar por inúmeras experiências de forma não-significativa, sem extrair delas o aprendizado que oferecem. Assim, as experiências ganham valor quando nos apropriamos dela. “Quando eu estou presente, no presente; no futuro, esse passado me ensina. Ao me ensinar, permite ao meu cérebro identificar possibilidades decorrentes dessa experiência”, observa João Baptista Brandão, professor da FGV e sócio-diretor da iBrand, destacando que experiência significativa exige consciência e atenção ao que está sendo vivido.
Se estamos atentos às experiências – e no que elas estão nos oferecendo como aprendizado –, formamos, ao longo da vida, um acervo valioso, que pode ser acessado a qualquer momento para resolver um problema, realizar um trabalho, assumir riscos ou na tomada de decisões, entre outras ações. E é justamente esse repertório complexo, rico e significativo que traz singularidade ao que somos e ao que fazemos.
Resgatando os saberes
“Lembre-se que as pessoas podem tirar tudo de você, menos o seu conhecimento”, Albert Einstein (1879-1955).
O que foi vivido até aqui está armazenado no cérebro, na memória. Se está lá, pode ser acessado a qualquer momento. E essa é uma excelente notícia. Fazendo uma analogia com a hierarquia do conhecimento ou hierarquia DIKW (veja quadro ao lado), para acessar o aprendizado – a sabedoria – que determinada experiência oferece é preciso analisar, compreender e apropriar-se dela, conseguindo aplicá-la em situações presentes ou futuras. É uma escalada trabalhosa, mas que vale a pena. Afinal, estamos falando daquilo que distingue você de outras pessoas, de outros profissionais.
Para resgatar esses saberes, o processo de autoconhecimento é fundamental. Traçar uma linha do tempo, elencar acontecimentos importantes e extrair deles aprendizado e significado podem ser um bom exercício. Mas é importante destacar que acessar esses conteúdos tão ricos e profundos muitas vezes não pode prescindir de ajuda profissional.
No artigo anterior, falamos da importância de o indivíduo empoderar-se de sua história. Aqui, queremos deixar claro que, além de olhar para a história de vida, é preciso dar significado ao que é vivenciado. Não basta aprender, é preciso apreender.
Este foi o último artigo da primeira fase do projeto Carreira 50+, que esteve focada no autoconhecimento e na importância de ressignificar a própria história. Na próxima etapa, vamos falar sobre conexões, prazer no trabalho e realização. Continue seguindo conosco nessa jornada.
Projeto Carreira 50+
O projeto Carreira 50+ é uma parceria entre Márcia Carneiro, jornalista e especialista em Comunicação Integrada de Marketing, e Cris Barata, coach, empreendedora e proprietária da Papilio Empresarial.
Com expertises em suas áreas de atuação, as duas se associaram nesse projeto com o objetivo de compartilhar aprendizados e experiências vividos por elas mesmas em suas transições de carreira. Além disso, o Carreira 50+ visa orientar e guiar aqueles que necessitam de um trabalho mais focado e individual no processo de ressignificação de sua trajetória pessoal e profissional, transformando o aprendizado de uma vida em oportunidade de negócio.