“Eu aceitei o medo como parte da vida — especificamente o medo da mudança. Mas eu fui em frente, apesar da batida no coração dizer: volte atrás”, Erica Jong.
Em nossa trajetória, ouvimos muitas histórias de pessoas que tentaram, de tempos em tempos, fazer a sua transição de carreira. Algumas delas, procuraram ajuda sistemática, ensaiaram o voo solo algumas vezes, mas não tiveram coragem de voar, preferindo permanecer aterradas, firmes na zona de conforto, no conhecido mundo que já dominavam, muito embora estivessem insatisfeitas. O universo, porém, em geral, se incumbe de dar uma sacudida na vida, provocando movimentos involuntários que acabam fazendo com que a mudança ocorra de qualquer maneira. E, quando isso acontece, pode ser traumático, especialmente porque não houve planejamento.
Escolher um caminho entre tantos outros pressupõe ter opções. Há quem diga que em primeiro lugar é preciso agradecer por se ter a possibilidade de fazer escolhas. E é a mais pura verdade. Ter opções não é um fardo, mas uma bênção. Logicamente, ao escolher uma trilha, será preciso descartar outras. E sabemos que, quando chega essa hora, dá aquele frio na barriga. Vem o medo tão sorrateiro, que com ares de dono da razão, sussurra ao nosso ouvido: “Melhor deixar tudo do jeito que está, pra quê arriscar?”.
“Para mudar, é preciso ter coragem! O medo só nos atrapalha”, diz a jornalista Luciana Alvarez, 46, com a propriedade de quem viveu na pele a briga entre o ímpeto de ir e o conforto de ficar. Sua trajetória profissional teve início em emissoras de televisão e jornais de grande circulação e seguiu pelo mundo corporativo. Nessa fase, ela teve a oportunidade de dedicar-se não só à área de Comunicação, mas também à de Sustentabilidade. Foi justamente quando ela descobriu que seu coração estava mesmo no terceiro setor. Luciana queria fazer a diferença, estar na linha de frente. Embora essa paixão estivesse em seu DNA, foi em 2015 que ela realmente começou a traçar um plano para chegar aonde realmente queria. “Nesse momento, decidi que iria me dedicar para realizar o meu sonho”, conta ela que iniciou o programa de coaching na Papilio Empresarial. Hoje, ela trabalha como gerente de Comunicação e Relações Institucionais da Fundação Bradesco e é conselheira do Instituto Repartir, que tem o objetivo de gerar oportunidade de aprendizado e trabalho a estudantes de Comunicação em situação de vulnerabilidade social.
Com uma história um pouco diferente, mas tão bem-sucedida quanto a de Luciana, o administrador de empresas Fábio Benedetti, 48, deparou-se com um dilema em sua carreira. Estava enfrentando um desafio profissional muito intenso e aquilo estava deixando-o quase doente. “Vivenciei em dez anos tudo o que um profissional leva 50 anos para experimentar. Era muito estressante! Queria chutar o balde”, lembra ele. Foi nesse momento que viu um e-mail sobre o trabalho de orientação de carreira feito pela Papilio. “Procurei a Cris Barata e ela me disse: “Se você quer chutar o balde, você não precisa de mim””, lembra, agradecido. Depois de algumas sessões e muito trabalho pessoal, Benedetti encontrou o caminho a ser seguido. “Sempre desempenhei o papel de orientador nas empresas em que trabalhei, é um traço natural, mas que não consegui perceber sozinho”, ressalta.
Ficar também é uma escolha
“Entrar em um caminho novo é difícil, mas não mais difícil do que permanecer em uma situação que não me nutre por completo”, Maya Angelou.
Importante destacar que não mudar também é uma escolha e pode parecer que não, mas é preciso ter muita coragem para decidir não ir atrás de seus sonhos. Até porque resistir à mudança pode ser muito mais penoso e trazer sérias consequências para a saúde. Entre as doenças causadas pela insatisfação e estresse no trabalho estão depressão, compulsões e Síndrome de Burnout, mais conhecida como síndrome do esgotamento profissional, que já acomete mais de 30% de trabalhadores no Brasil, de acordo com a pesquisa realizada pela International Stress Management Association (Isma-BR)*.
Uma das pessoas que fez o programa da Papilio, mas prefere não se identificar, conta que engordou 30 quilos. “Fiquei irreconhecível! Toda a minha frustração ia parar em meu estômago”, conta ela, lembrando que era na comida que encontrava o prazer que não tinha no trabalho. Restaurada, já perdeu 20 quilos e reencontrou o prazer naquilo que faz.
Quando a escolha é permanecer na posição já ocupada, associamos sempre à expressão “ficar na zona de conforto”. Mas como podemos notar essa zona não é tão confortável assim. Em geral, ela está mais associada à estabilidade financeira. E esse talvez seja o maior impeditivo para se fazer a transição de carreira.
Luciana Alvarez está entre os profissionais que pesaram muito os prós e os contras para ir atrás de sua realização profissional. “Tive de abrir mão da grana, não teve jeito. O dinheiro ludibria a gente e acaba nos segurando, nos impedindo de alçar voo”, sentencia.
Outro que teve de renunciar ao salário foi Benedetti. Ele deixou de ser celetista para viver de sua própria empresa, a Star Service Orientações Profissionais e Empresariais. “Hoje, tenho uma estabilidade conquistada e não registrada”, celebra, destacando que não quer mais sofrer por aquilo que não é seu.
Mudança planejada
“Mude, mas comece devagar, porque a direção é mais importante do que a velocidade”, Clarice Lispector.
Fazendo uma boa análise de nossa trajetória de vida, vamos perceber que renunciar é uma constante. Toda escolha pressupõe renúncias. O problema não é renunciar, mas sim perceber que essas renúncias nos causam infelicidade. Então, bora mudar? O que estamos propondo aqui, desde que iniciamos essa jornada, não está associado a medidas drásticas, a sapatear em cima da mesa de seu chefe, a sair repentinamente batendo a porta ou entornar o caldo.
Nossa proposta está totalmente vinculada ao planejamento. Por isso, gostamos muito dessa frase da escritora Clarice Lispector que enfatiza em primeiro lugar a direção que se quer seguir, para fazer a mudança com maturidade. Aos poucos, sem açodamento, também podemos concretizar nosso sonho. Mas é preciso apertar o play.
Um bom exemplo é o caminho que está sendo traçado por Luciana. Ela foi detalhista em seu plano. Queria ir para o terceiro setor, mas não tinha experiência nessa área. “Cheguei a me candidatar a algumas vagas, mas não fui selecionada”, relembra. Foi então que resolveu se planejar financeiramente, a fim de se dedicar ao voluntariado. “Quando você ouve que alguém tirou um sabático, em geral, foi na Índia, na Europa. O meu foi em Cotia (SP)”, brinca. A jornalista foi ganhar experiência na área, estudar, ver como era. “Percebi que, para estar no terceiro setor, teria de ter uma atuação reconhecida nesse campo. E foi através desse trabalho que descobri que a minha causa é a Educação”.
Já Fábio Benedetti conteve seu ímpeto de chutar o balde e também se preparou para a nova jornada. “Estudei muito, me equipei para esse momento”, conta ele que com apenas três anos de eu-empresa teve a satisfação de ver clientes seus virarem o jogo.
Acredite na sua escolha
“Você é o único representante de seu sonho na face da terra”, Emicida.
Não tem jeito, o verdadeiro embaixador de seus sonhos é você mesmo. Se você não for atrás para concretizá-los, ninguém mais fará isso por você. Ajuda sempre é bem-vinda, claro, mas sem esforço pessoal, o voo não acontece.
Lembre das histórias de Luciana e Fábio. Eles traçaram um plano, erraram, acertaram e embora realizados, ainda estão em busca de aperfeiçoamento, buscando novas portas para serem abertas, mantendo o coração livre para vivenciar outras oportunidades. Luciana, por exemplo, começou a fazer Pedagogia. Ela não pensa em dar aula, mas é a Educação que a move. Por isso, ela acredita que essa graduação pode dar a ela um preparo ainda maior para cumprir a sua missão. Aliás, quando o assunto é maturidade e carreira, ela é taxativa: “Estamos vivendo um outro momento! Dá para ter segunda, terceira, quarta carreira. A idade não é mais problema”, comemora.
E então, pronto para se preparar para seu voo solo? Como diz o sábio Dalai Lama, “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”.
Conte conosco em seu plano de voo.
Projeto Carreira 50+
O projeto Carreira 50+ é uma parceria entre Márcia Carneiro, jornalista, especialista em Comunicação Integrada de Marketing e com formação em Dinâmica dos Grupos, e Cris Barata, coach, empreendedora e proprietária da Papilio Empresarial.
Com expertises em suas áreas de atuação, as duas se associaram nesse projeto com o objetivo de compartilhar aprendizados e experiências vividos por elas mesmas em suas transições de carreira.
Além disso, o Carreira 50+ visa orientar e guiar aqueles que necessitam de um trabalho mais focado e individual no processo de ressignificação de sua trajetória pessoal e profissional, transformando o aprendizado de uma vida em oportunidade de negócio.
* https://super.abril.com.br/saude/oms-classifica-a-sindrome-de-burnout-como-doenca/
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